O ensino remoto e a consciência crítica



O que é filosofia e a sua importância no ensino

“Quem somos?”; “De onde viemos?”; “Para onde vamos?” e “O que estamos fazendo aqui?, essas e outras perguntas sempre figuram no arcabouço mental, emocional e espiritual do homem. A Filosofia, por sua vez, nasce como resposta destas interrogações e, ao longo dos tempos, vem servindo como estudo das inquietações e problemas da existência humana. 


Assim pode-se dizer que a Filosofia é o diálogo íntimo com os homens, com a realidade sociocultural e política e com o tempo histórico. Ela evidencia o caráter reflexivo do pensar e acusa o senso crítico do agir. Neste sentido, estudiosos e especialistas no ensino da Filosofia, como Aranha e Martins, enfatizam que “o estudo da filosofia é essencial porque não se pode pensar no homem que não seja solicitado a refletir e agir” (2003,p.1). 


São essas inquietações motivadas de “carências” e de necessidades naturais e inerentes do Ser-humano que faz com que a humanidade construa novas e outras realidades, ora positivas e ora negativas. Contudo diferentes das anteriores. Daí, a importância da Filosofia como disciplina de ensino nos programas curriculares das escolas e do ato de saber filosofar como ferramenta indispensável para homens e mulheres na busca de uma consciência de ser e de estar no mundo.


Neste post, trago esse tema abordados por Edson Luna no seu trabalho de dissertação para a Universidade Regional do Cariri. Colaborei com o professor Edson Luna para a construção de um e-book sobre o tema tratado.


O ensino da Filosofia e seus efeitos gerados na vida cotidiana.


O ensino de Filosofia pode contribuir para a construção de um olhar crítico sobre a realidade. Para isso tem que dispor de uma didática que não se destine a memorização de um conteúdo, mas à conquista de capacidades necessárias para o ato de filosofar. 


O objetivo primordial, frente ao estar do homem hoje inserido numa contemporaneidade complexa e multifacetada, torna-se o ensino da Filosofia e do Filosofar, uma tarefa essencial à compreensão da experiência do homem na atualidade. Almeja, aqui, meramente não ensinar Filosofia, mas o exercício pleno e hábil de filosofar sobre as coisas do EU-MUNDO-NATUREZA.  


Estima-se o pensar de forma autônoma, crítica e reflexiva. Deste modo, a antiga relação entre a Filosofia e a Pedagogia propõe pensar e rever a experiência na vida e na Educação, em especial uma experiência que possibilite também a revisão do educador-filósofo frente a realidade em que vive hoje, um mundo pós-pandemia do COVID 19. Também na urgência de uma Educação que valorize novamente a reflexão filosófica por meio de uma experiência filosófica, tendo-a também como fim.


Aqui problematiza o Ensino de Filosofia bem como aprofunda o tema da experiência de educadores, apresentando sua importância no momento presente. A Educação e a Filosofia são uma espécie de tripé formador da vida humana, pois carregam consigo a novidade, o desejo, o inesperado, que são também condições para a experiência humana. 


Para isso, essa formação exige atenção constante, resistindo a imposições, ideologias e programações, resgatando o valor, a necessidade e a compreensão da experiência na atualidade. Há de haver um olhar alargado e uma preocupação sistêmica na análise curricular e programática do ensino da Filosofia. A compreensão da trama histórica é imprescindível ao educador-filósofo. 


Ele deve ter clareza histórica, conhecimento crítico da realidade sociocultural e política e a reflexão teórica e livre que o rodeia. Ele deve ser o “fio condutor” de um processo na construção de conhecimento dos alunos, abrindo e despertando para o “ponto de partida” do pensamento. Ele deve exercer o papel de agente motivador, estimulador e descobridor de contextos. Já que também, muitas das vezes, engloba a falta de interesse dos alunos em estudar a disciplina. 


Este problema acontece praticamente em quase todas as escolas, particulares ou públicas. Lógico que nas escolas públicas isso sofre um agravo. Muitas jovens não investem em seu futuro por diversos motivos: falta de moradia, saúde, pais despreparados e sem formação, violência doméstica etc. Muitas vezes torna-se impossível uma família com um grau de vulnerabilidade social agudo perceber a mais-valia dos conhecimentos filosóficos. E o educador-filósofo acaba sofrendo com a estrutura precária do ensino público brasileiro. 


Apesar dos pesares, o exercício da arte do raciocínio e do raciocinar é indispensável para adquirir consciência de ser e estar no mundo. Um mundo plural e fragmentado, simples e complexo, antagônico por vezes, que se apresenta a todo momento. O indivíduo tem que estar preparado para esse painel de incertezas e de certezas voláteis. 


O ensino da Filosofia tem que ser visto como fomentador do bom usufruto, do pensamento, da consciência acusada e alargada e da busca pela verdade. O ensino da Filosofia permite e conduz fatores necessários à uma inserção das pessoas no mundo como sujeitos de suas vidas, de sua formação e como responsáveis pela comunidade. O ensino da Filosofia colabora para expurgar da Educação, o que Freire (1970) cunhou como “educação bancária”, e o educador-filósofo cumpre um papel exigível neste caminho já começado, mas, por vezes, de difícil realização.


O uso da tecnologia na educação e seu desdobramento


O desenvolvimento das tecnologias digitais e online, a um ritmo cada vez mais acelerado, impacta a vida cotidiana. E, não é diferente para a Educação. Com isso, têm surgido muitas teorias que explicam e fundamentam modelos de práticas para os processos de ensino e aprendizagem online. Também as chamadas pedagogias emergentes surgem como um espaço de reflexão sobre novos direcionamentos dos ambientes de aprendizagem online que se situam em novas tendências nas ferramentas de autoria e nas facilidades dos serviços personalizados interativos, bem como proporcionam as conexões entre os interessados em aprender sobre uma temática. 


Toda essa “nova realidade” aflorou no período pandêmico causado pelo coronavírus COVID 19, promoveu adaptabilidade na relação professor-aluno e revelou forças e fragilidades didáticas e pedagógicas. De uma hora para outra, o ambiente educativo fez com que o presencial se virtualizasse e a distância se presencializasse neste “novo” mundo tecnológico. Sofreu-se um “cheque-mate” no jogo de tabuleiro, a qual chamada Sociedade da Informação e Comunicação está inserida, fazendo com que os profissionais da Educação “corresse atrás do prejuízo" e pudesse continuar transmitindo suas aulas. 


O pisca-alerta acende e o desafio no atual contexto é não cair no tecnologismo. Mesmo que a tecnologia tenha tomado o protagonismo na cena educacional. A tecnologia tem que ser vista e encarada como suporte para uma aprendizagem mais eficiente e eficaz. Aliás, esses dois conceitos se tornaram muito discutíveis com o uso de recursos tecnológicos e digitais no processo de transmissão e de formação de uma classe virtual. 


Muitos teóricos levantam e defendem que a tecnologia não pode suplantar a personalidade e a presença numa sala de aula formal-tradicional. Outros já mais radicais alertam para que a tecnologia não anestesie a consciência e nem ameace a subjetividade. Os mais progressistas em debate, como por exemplo Moran (2012), dizem que “as tecnologias são meio, apoio, mas o avanço das redes de comunicação em tempo real e dos portais de investigação, transformam-se em instrumentos fundamentais para a mudança na educação”. 


Aponta também que “o formato EAD aproxima mais as pessoas, pelas conexões em tempo real, que permitem que professores e alunos falam entre si e formem pequenas comunidades de aprendizagem”. Os mais otimistas ainda confirmam que as tecnologias digitais favorecem novas e constantes interações entre agentes humanos e técnicos, o que gera novas formas de aprendizagem. Para estes o ideal humanista, o sentido autônomo de identidade e subjetividade não estão perdidos no ambiente tecnológico, digital, online e em rede. Ao contrário, as tecnologias em rede visam estimular e ampliar o trabalho inter-colaborativo e intergeracional. Já que o sujeito estando numa transmissão em rede não é só a expressão de sua individualidade, mas também interliga-se com a coletividade.   


O uso da tecnologia no ensino remoto de Filosofia assenta nessa intercolaboração de seus agentes inseridos no processo de construção do conhecimento. Para isso busca atuar com os elementos que são mais impactados pelo avanço da tecnologia: memória, imaginação, percepção e raciocínio. A capacidade de ler e escrever, a de fazer análise, de motivar pensamentos e comparações, estimular a síntese, organizar ideias e aplicar realizações. Tudo em um ambiente tecnológico e digital tem que haver o estímulo a um espaço que conduza o aluno no sentido livre de pensar e agir.  Despertar a curiosidade e o gosto de aprender. Pois o aluno é o centro do processo e o educador-filósofo é o mediador do conhecimento, trabalhando para o desenvolvimento do aluno sempre de modo construtivo e dialógico.  


O ato de educar nessa seara tecnológica, digital, online e em rede perpassa em organizar o "bombardeio de informações” numa lógica de compreensão e aprendizagem. 


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