Novos paradigmas na educação do século XXI


Pensar e compreender as mudanças tecnológicas e o uso das principais tecnologias da informação e comunicação em educação, faz parte de entender esse novo pensar, e, por sua vez, compreender esse sujeito que utiliza comunicação via Internet, as plataformas virtuais (iPad, smartphone tablet e Moddle), o uso de dicionários virtuais tipo Wikipedia e a busca das informações por meios de redes sociais. Tudo isso faz parte do real e do presente.
De acordo com Lèvy (1993, p.07)novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática.” E, prossegue expondo que a Internet chegou favorecendo ao homem novas maneiras de pensar, conviver e agir em situações onde a própria inteligência virtual depende da metamorfose que os dispositivos informacionais acarretam na absorção e assimilação desses modos de pensar e na forma como serão processados.
Almeida (1988, p.10), também, nos disse que:

As discussões sobre informática na educação são provocadas por posições apaixonadas, quase místicas. O educador profissional tem que se posicionar contra ou a favor do seu uso e apontar os limites, mas, de qualquer forma, sempre com competência. Não só para uma competência técnica, mas também para a formação de uma responsabilidade ético-pedagógica e para a conscientização crítico-política.

Valente (1999, p.20) concorda dizendo que:

Os computadores estão proporcionando uma verdadeira revolução no processo de ensino-aprendizagem. Uma razão mais óbvia advém dos diferentes tipos de abordagens de ensino que podem ser realizados através do computador, devido aos inúmeros programas desenvolvidos para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, a maior contribuição do computador como meio educacional advém do fato do seu uso ter provocado o questionamento dos métodos e processos de ensino utilizados.

No entender de Marques (apud MARCOLLA, 2004), as NTICs possibilitam uma aproximação entre os sujeitos em formação (professores e alunos) e as diversas culturas (e/ou saberes) espalhada(o)s pelo mundo. Para o autor, as tecnologias atuais proporcionam a formação do cidadão e sua interação com um mundo de pluralidades, onde não existem limites geográficos e culturais e a troca de conhecimento é constante.
Segundo essa postura, os espaços de formação deixam de estar concentrados em um único local (escola/sala de aula), ramificando-se em diversos ambientes virtuais, que possibilitam o diálogo, a aprendizagem e a relação entre as pessoas de realidades diferentes.
Ao falar da prática educativo-crítica em seu livro Pedagogia da Autonomia, Freire (1996, p.42) reforça esse entendimento dizendo que mais do que a tecnologia pela tecnologia é:

Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos.

Freire (2011b, p.51) nos lembra também que:

A realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se transforma por acaso. Se os homens são os produtores desta realidade e se esta, na inversão da práxis, se volta sobre eles e os condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa dos homens.

Teixeira (2000) considerava que a aprendizagem é um processo de mudança de comportamento diante da vida. Não se aprende somente o que se tem em vista, mas um conjunto de temas e de valores que estão ligados a uma atividade que é desenvolvida. Ou seja, aprende-se por associação. Ele nos diz que a experiência é “um modo de existência” em que situação e indivíduo se transformam. A atividade educativa, portanto, promove a reorganização da experiência e investe na formação de processos conscientes que não podem ocorrer sem controle, sem intervenção.
Assim, o caminho é a educação auxiliar para essa tarefa histórica, para esse processo de mudança do Ser? Pode-se recorrer novamente ao pensamento de Freire (2011a, p. 72) em Pedagogia do Oprimido, que diz:

O que pode e deve variar, em função das condições históricas, em função do nível de percepção da realidade que tenham os oprimidos, é o conteúdo do diálogo. Substituí-lo pelo antidiálogo, pela sloganização, pela verticalidade, pelos comunicados é pretender a libertação dos oprimidos como instrumentos da domesticação.

Seguindo a mesma prerrogativa, o educador latinoamericano Velázquez (2011a, p.37) nos coloca que:

De fato, todos sem exceção devem, de uma ou outra forma, participar da realização de um novo desenho filosófico - educativo, a fim de reconquistar um mundo em que novamente o Homem será amigo do Homem, em uma convivência harmônica com seu ambiente, numa relação de adaptação, e não de depredação massiva dos recursos naturais.

Dito isso, e considerando que a escola deve ser réplica da sociedade a que serve, propõe-se uma reflexão sobre a educação presente na sociedade moderna e busca-se soluções para melhoria da realidade (ou realidades) vivida(s) hoje no mundo, pois o fato é mais do que urgência, é emergência.
A reflexão sobre a utilização da Internet como recurso tecnológico na educação é fundamental para que as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs) passem a ser utilizadas como instrumentos na formação de um sujeito crítico, atuante, autônomo e reflexivo que está em contato com o mundo, fortalecendo sua própria identidade cultural. Que as NTICs façam uma leitura crítica de grandes quantidades de informação recebidas, que utilizem a Internet como instrumento que supera barreiras de tempo e espaço, lembrando, no entanto, que receber informação não significa construir conhecimento, pois para isto é preciso uma relação teoria-prática que se processa e se confirma no cotidiano.
Ao refletir sobre os desafios educacionais para o terceiro milênio, Mello (2011, p.1, on line) também nos afirma que:

O advento da sociedade da informação, das formas de organização do trabalho e dos modelos de gestão que emergem com a inovação tecnológica está impondo uma mudança no perfil da força de trabalho: (a) o adestramento vai sendo progressivamente substituído pela capacidade de executar tarefas menos fragmentadas, (b) não basta reter informação, é necessário saber selecioná-la, processá-la e dar-lhe significado; (c) a produção menos massificada requer da mão-de-obra mais criatividade, autonomia, capacidade de solução de problemas, flexibilidade e espírito de síntese, relações conceituais complexas.

Nesta mesma linha de raciocínio, Borba e Penteado (2010) defendem que a ideia de usufruir desses mecanismos informativos deve ser um direito de qualquer aluno de escola pública ou privada, ou mesmo, consumidor contemporâneo de aceder ao letramento digital, manusear um computador para aprender a ler, escrever, compreender textos, entender gráficos, cortar e recortar, contar e desenvolver noções espaciais.
Percebe-se, neste contexto, que as fronteiras da sala de aula estão em processo de mutação constante, facilitando cada vez mais o processo de consulta, ensino, aprendizagem e colaboração entre alunos e professores, favorecendo a aquisição de novos conhecimentos de uma forma mais rápida e fácil.



Todavia, por outro lado, como bem expressa Gevaert (1976, p.102), a ciência e as tecnologias podem trazer mazelas para a humanidade:

Em concomitância com a explosão técnica e científica da Humanidade, surge uma difusa pergunta sobre o significado humano deste gigantesco empreendimento cultural. Muitos seguem, sem dúvida, sonhando que o progresso científico e o progresso técnico efetuaram quase automaticamente uma existência melhor, e que a elaboração científica de novas estruturas proporcionará a chave última e definitiva para superar todas as misérias do Homem. Por outro lado, também aumenta a cada dia o número dos que se distanciam da fé absoluta nas ciências; estão convencidos de que o Homem tem certos problemas que jamais poderão ser compreendidos, menos ainda serem resolvidos, através de meios externos e puramente materiais. As imensas possibilidades positivas que a civilização técnica-industrial oferece ao Homem está cheia de ambiguidades. Um Mundo dominado unicamente pela ciência e pela técnica, poderia inclusive, revelar-se como inabitável, e isto não é só do ponto de vista biológico, mas sobretudo do ponto de vista cultural e espiritual. Depois de duas guerras mundiais no século XX, e depois dos campos de extermínio, onde foram suprimidos milhões de homens, não é possível enxergar o progresso científico e técnico com a mesma ingênua superficialidade que era característica do século XIX. Sobretudo se comprova que o aumento vertiginoso dos conhecimentos técnicos e analíticos da existência humana, e o progressivo desentendimento entre os labirintos das especializações, vão acompanhados de uma crescente incerteza a respeito do que constitui o Ser profundo e último do Homem.

E assim Thomas Merton (apud Velázquez, 2011a, p.38-39), partilha de sua opinião a respeito:

Vivemos em crise, e talvez nos pareça interessante fazê-la. Ademais, também nos sentimos culpados por ela, como se não tivéssemos que estar em crise. Como se fossemos tão sábios, tão capazes, tão bondosos, tão razoáveis, que a crise deveria ser impensável a qualquer momento. É, sem dúvida, este "deveria" eteriao que faz nossa era tão interessante que de nenhum modo pode ser uma época de sabedoria, nem sequer de razão. [...]
A crise do atual momento histórico é a crise da civilização ocidental: mais precisamente da civilização européia, a civilização que foi fundada pela cultura greco-romana do Mediterrâneo e revigorada pela gradual incorporação dos invasores bárbaros dentro da cultura religiosa judeu-romana-cristã do decadente Império Romano. [...]
Hoje em dia, a espécie humana é como o alcoólatra, que sabe que beber o destruirá, ainda assim, sempre tembons motivospara que continue bebendo. Assim é o Homem em sua fatal dependência da guerra. Não é verdadeiramente capaz de ver uma alternativa construtiva à guerra. [...]
Nossa enfermidade é a enfermidade do amor desordenado, do amor próprio, que simultaneamente se conta que é ódio próprio, e instantaneamente torna-se uma fonte de destruição indiscriminada, universal. É o outro lado da moeda, que era corrente no século XIX: a crença no progresso indefinido, na suprema bondade do Homem e todos seus desejos. [...]
A tarefa de construir um mundo pacífico, é a tarefa mais importante de nosso tempo, mas também é a mais difícil. De forma que necessitará muito mais disciplina, mais sacrifício, mais pensamento, mais cooperação e mais heroísmo do que guerra alguma jamais pediu.

Neste contexto, Régnier (1995, p.3) alerta:

Em meio a uma crise global, de tão graves proporções, muito se fala ultimamente em diferentes instâncias das sociedades modernas, em mudança de paradigma como reconhecimento da necessidade premente de construção de um novo modelo que, para além dos limites da racionalidade científica, crie as condições propícias a uma aliança entre ciência e consciência, razão e intuição, progresso e evolução, sujeito e objeto, de tal forma que seja possível o estabelecimento de uma nova ordem planetária.

Pode-se dizer que neste momento histórico, o paradigma conservador da ciência, acentuado pelo advento do mundo globalizado e do pensamento neoliberal, redundou na formação sectária, competitiva e individualista, que, em nome da técnica e do capital, parece perder muito da função de formar homens responsáveis, sensíveis e que venham buscar o sentido da vida, do destino humano e de uma sociedade justa e igualitária.
O clima de revolução científica, epistemológica, cultural e tecnológica, gerado pelo esgotamento do velho paradigma, tem como ênfase a profunda contradição entre o imenso avanço da tecnologia e o trágico destino da maior parte da humanidade.
Na Sociedade da Informação em que tudo está conectado, em que as pessoas, minuto a minuto, segundo a segundo, pixel a pixel, estão sendo bombardeadas por uma quantidade de textos e imagens,  a eficiência da informação de qualidade ainda é uma incógnita. E os adolescentes, de 15 a 17 anos, que estão cursando o Ensino Médio, convivem com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) e têm demonstrado uma grande facilidade para processar o acesso com muita velocidade à enorme quantidade de informação disponível. São novos desafios para a educação do século XXI, são difíceis metas a serem alcançadas na sociedade atual.

Faz-se, então, necessário pensar numa abordagem pedagógica diferente, em que o componente tecnológico não pode ser ignorado e que resulte numa aprendizagem onde o aluno se torna um sujeito crítico, atuante, autônomo e reflexivo.  Mas o que se observa na maioria das escolas públicas e privadas brasileiras é que o aluno ao invés denavegarà luz do conhecimento, acaba naufragando no mar das informações. Ele não tem o costume de parar, pensar, processar e organizar essa acelerada multiplicação de sons, palavras e imagens. Informação por informação não gera conhecimento, e por sua vez, não se transforma em saber. A informação tem que ser codificada, gerando entendimento e aprendizado. É o Aprender com um fim social, para ser aplicado a favor de uma coletividade. Está posto o paradoxo. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que precisa ser entendido entre cultura e meio ambiente

O Papel do Hidrogênio Verde na Construção de um Economia Sustentável

Argentina rumo ao abismo: a reprise de um filme