Prazer de escrever e ser um contador de histórias.


Escrever é, sem dúvida, uma das experiências mais enriquecedoras e transformadoras da vida humana. Desde os tempos mais remotos, quando nossos ancestrais deixaram marcas em paredes de cavernas, sentimos a necessidade de registrar, expressar e compartilhar nossas experiências e visões do mundo. 

A escrita transcende o ato de alinhar palavras numa página; é uma ponte entre a alma de quem escreve e a de quem lê, um caminho pelo qual ideias, emoções e sonhos ganham vida e encontram eco em outras mentes e corações.

O prazer de escrever reside, antes de tudo, na liberdade que ela proporciona. Quando escrevemos, criamos universos inteiros. Podemos dar vida a personagens, desenhar cenários fantásticos ou retratar a realidade de forma crua e honesta. Podemos expressar nossos pensamentos mais profundos, desabafar nossas dores ou celebrar nossas conquistas. Apesar de que Fernando Pessoa falar "que todo poeta é um fingidor. Que finge tão completamente o amor que devera sente", mas escrever é um ato de criação que nos coloca em contato direto com nossa essência. Ao mesmo tempo, nos permite explorar novos territórios de nós mesmos, sejam eles reais ou imaginários.

Contar uma história é um ato de generosidade. Quando narramos algo, abrimos uma parte de nós mesmos para o mundo. Mesmo que a história não seja autobiográfica, ela carrega fragmentos de quem somos: nossas observações, crenças, experiências e percepções. É através dessas histórias que nos conectamos com os outros. Ao compartilhar uma narrativa, convidamos o espectador - leitor ou espectador - ouvinte a embarcar numa jornada conosco, a ver o mundo pelos nossos olhos e, em muitos casos, a questionar ou aprofundar suas próprias visões.

O impacto que nossas palavras podem ter na vida de alguém é, talvez, uma das maiores alegrias para quem escreve. Saber que o que você criou encontrou um lugar na mente e na alma de outra pessoa é uma experiência única e gratificante. Seja através de um livro, um poema, um artigo, uma peça de teatro ou até mesmo uma mensagem simples, as palavras têm o poder de confortar, inspirar, provocar reflexão e até transformar vidas.

Quantas vezes não encontramos um livro ou um texto que parecia falar diretamente conosco? Que parecia ter sido escrito exatamente para aquele momento que estávamos vivendo? Esse é o poder da escrita: ela é atemporal e universal. Quando escrevemos com verdade e autenticidade (seja para nós mesmos), nossas palavras têm a capacidade de atravessar barreiras de tempo, espaço e culturas, alcançando pessoas que jamais imaginaríamos.

Mas, o ato de escrever também é, muitas vezes, solitário. Sentar-se diante de uma página em branco exige coragem. Coragem para enfrentar nossos próprios medos e dúvidas, coragem para expor nossas ideias e sentimentos, coragem para arriscar. E, é justamente nesse enfrentamento que reside a magia. A escrita é um processo de autodescoberta, um caminho para entendermos melhor quem somos e o que queremos dizer ao mundo. E, quando nossas palavras encontram alguém disposto a ouvir, esse ciclo se completa de maneira incrível.

Outra coisa é retorno de um espectador. Quando isso acontece, é uma das experiências mais recompensadoras. Seja um comentário, uma carta ou até um olhar emocionado, saber que nossas palavras ressoaram em outra pessoa é a validação de que o que fazemos importa. Cada feedback é uma faísca que nos incentiva a continuar, a explorar novos temas, a arriscar novas formas de contar histórias.

Todavia nem sempre o impacto é imediato ou visível. Muitas vezes, as palavras plantam sementes que levam tempo para germinar. Talvez alguém encontre nosso texto em um momento de dificuldade e, silenciosamente, encontre ali força e conforto. Ou talvez uma ideia que compartilhamos inspire alguém a tomar uma decisão importante ou a mudar sua perspectiva. Esses momentos, mesmo que nunca cheguemos a conhecê-los, são parte da magia de escrever.

Outro aspecto maravilhoso da escrita é sua capacidade de eternizar ideias e emoções. As palavras que colocamos no papel, na tela ou no palco têm o poder de atravessar gerações. Machado de Assis  e Monteiro Lobato impactaram minha vida e, talvez, tenho eles comigo. Nelson Rodrigues é outro que está ligado a mim e sua influência ainda hoje inquieta minha alma e perfuma minha pele.

É importante dizer que escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Nem todos começam como escritores, e tudo bem. A prática é essencial, assim como a leitura. Quanto mais lemos e assistimos, mais aprendemos sobre diferentes estilos, técnicas e formas de expressão. E quanto mais escrevemos, mais encontramos nossa própria voz. Sua aluno do Colégio de Dramaturgia, primeira turma do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com orgulho de ter sido aluno de Orlando Senna, Antônio Mercado, Luiz Carlos Maciel, Clóvis Levi, Rui Guerra, Nelson Pereira dos Santos e tantos outros gênios da arte do teatro, cinema e televisão. Com eles, aprendi a arte da escrita. Mas, antes, também aprendi a ouvir. Isso mesmo a escrita nos ensina a ouvir. 

Quando nos propomos a contar uma história, precisamos estar atentos ao mundo ao nosso redor: às pessoas, às emoções, às nuances da vida cotidiana. Essa observação aguça nossa empatia e nossa compreensão do outro. E é justamente essa capacidade de ver e sentir o mundo de maneira mais profunda que torna o ato de escrever tão especial.

Escrever é um privilégio, uma responsabilidade e uma alegria. É uma forma de ver nossa o mundo, de compartilhar quem somos e de contribuir para algo maior do que nós mesmos. Cada palavra que escolhemos tem o potencial de tocar uma vida, de fazer a diferença. E, no fim das contas, é isso que importa: saber que, de alguma forma, o que escrevemos chegou a alguém e fez a vida dessa pessoa um pouco mais rica, mais leve ou mais significativa.

Por fim, se você tem o desejo de escrever, não hesite. Comece hoje. Escreva para você mesmo, para o mundo, para quem quiser ouvir. Deixe que suas palavras sejam o reflexo de quem você é e do que você acredita. Porque o prazer de escrever não está apenas no ato em si, mas no impacto que ele pode ter. E isso é algo verdadeiramente transformador.

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