Meu lugar

 O meu lugar tem cheiro de feijoada no domingo, tem criança correndo na rua, tem roda de samba na calçada e um tantã marcando o compasso da vida. O meu lugar tem a voz de Arlindo Cruz.

Arlindo é mais que sambista — é contador de histórias, poeta das esquinas, herdeiro e guardião de uma tradição que nasceu no quintal do povo e conquistou o mundo. No seu canto, o samba não é só música: é afeto, é abraço, é resistência. Com o violão no colo, ele transforma lembrança em melodia e saudade em refrão.

Foi nas vielas e nos terreiros que ele aprendeu que samba é família, é amizade, é partilha. E foi nos palcos e nas quadras que mostrou que o samba também é orgulho e dignidade. Compositor de mais de 500 canções, Arlindo cantou a beleza do simples, a força do amor e a fé que não se curva diante das tempestades.

Sua trajetória é marcada pela fusão perfeita entre tradição e renovação. Ao lado de Sombrinha, no grupo Fundo de Quintal, ajudou a redefinir o pagode, sem jamais abandonar a raiz. Suas músicas atravessaram gerações, sendo cantadas em rodas de samba, carnavais e celebrações populares. Parcerias com nomes como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Beth Carvalho consolidaram sua importância como um dos pilares do gênero.

Mesmo diante de adversidades, como o grave problema de saúde que enfrentou em 2017, Arlindo segue sendo símbolo de resistência. Sua obra continua viva na voz de outros intérpretes e, principalmente, no coração do povo brasileiro.

O meu lugar é onde a poesia dele ecoa, onde cada batida do surdo é um pedaço da nossa história. Porque Arlindo Cruz é patrimônio do Brasil, daqueles que não se apagam com o tempo. Ele nos lembra que o samba é eterno — e, enquanto houver um pandeiro batendo e um coro cantando, o meu lugar será sempre aqui, ao lado dele, celebrando a vida no compasso do samba.