Portugal, uma relação amorosa

Meus amigos e amigas,


Passei uns dias sem escrever no blog. Para contar a verdade, mais de um mês. Um mês intenso, cheios de novidades e emoções, sentimentos tantos, imagens várias e raras de serem gravadas na retina da alma. Atravessei o Atlântico com o coração cravado de perspectivas, certeza e coragem, fazendo o caminho inverso dos navegadores dos séculos XIV e XV para descobrir novas terras. Melhor dizendo, redescobrir Portugal. Redescobrir porque tenho uma relação amorosa, carinhosa e sentimental com essa terra de Pessoa a cerca de muitos anos. vim, pela primeira vez, aos meus 17 anos e me apresentei com a peça Bailei na Curva no Festival Internacional de Teatro da Expressão Ibérica - FITEI. Depois voltei e voltei outras vezes em várias situações, sempre bem acolhido entre pessoas e aplausos.
Escrevo também porque na próxima segunda-feira, dia 23, faz um mês que estou com minha esposa e filhos em Portugal. Alguns vão dizer que faz pouco tempo para o que vou dizer, mas já aviso ao pessimistas de plantão que "tudo vale a pena se a alma não for pequena". É a minha, meus amigos e amigas, (já digo de passagem) é grande. É um pássaro voando alto, bem alto. Tenho uma vontade enorme de viver e ser feliz. Ver minha mulher e meus filhos felizes. Todo o meu esforço é fazer bem aos que me fazem bem. 

Um mês em terra lusitana, penso. O que posso dizer? Como posso traduzir sentimentos em palavras para responder indagações de um velho amigo ao conversar comigo ontem, à noite, pelo telefone. Dormi pensando em tudo isso.

Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito mais do que parece. Acredito que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal. Não estou a "puxar corda" e nem "encher a bola à toa". Também não é um sentimento entusiasmado de um novo viajante. Sou simplesmente grato e, sem dúvida, otimista. Um otimista porque cultivo todos os dias a fé. A fé no trabalho, na família, nas pessoas e especialmente em mim. Cultivo uma grande fé no futuro e em Deus. E não venham colocar isso à prova porque defendei com unhas e dentes aquilo que acredito e aposto.                                                                                                         


Mas vamos lá - não estou a dizer também que Portugal seja perfeito. nenhum lugar é. Nem os portugueses, nem os brasileiros, nem os ingleses, nem os franceses, nem os americanos, nem ninguém. Entretanto, meus amigos e amigas, para apontar fatos negativos basta ler jornais e revistas, assistir os telejornais e acessar os sites de noticias diariamente. Elas estão lá. Todas elas estão lá sem esforço. Mas acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se para elevar um patamar a mais. Algumas delas exerceram na minha decisão de escolha no país para viver, estudar e criar meus filhos. Mais do que uma ligeira similaridade da língua.

Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Cá os pratos são fartos e não as porções minúsculas dos franceses. Contudo não sou tão viajado assim e conheço poucas terras. Mas aqui não tem só bacalhau e pastel de nata. Não. Estou falando de muito mais - pescados, arroz de pato e os variados doces. Que doces maravilhosos! Foi ao Porto passar o ano novo e minha esposa comeu um doce chamado Pedaços do Céu. Realmente, o nome e sabor eram divinos. As padarias e confeitarias, uhhh!

Mais do que isso, o mundo deveria ter o balanço entre a rigidez e o afeto que têm os portugueses. A forma de educar as crianças. Numa breve conversa com a educadora do meu filho Bernardo, senti a determinação e a motivação das professoras. Elas fazem muito (muito menos) com pouco. E também, novamente, não estou falando mal do trabalho feito pelos profissionais de educação no Brasil (o pessimista de plantão, alerta). Estou relatando uma postura diferenciada ao receber um novo aluno na sala. Tanto na escola como na Secretaria de educação onde fiz a matrícula.

Também resolvo essa questão porque é bom dizer que de nada adianta a simpatia e o carisma brasileiro, se eles impedem de agir com a seriedade e firmeza que determinados assuntos exigem. A alegria do brasileiro é contagiante, sem dúvida. Que seja sempre assim. A nossa música nem pensar! Mas o que eu quero dizer e aprofundar melhor é no fato de que pessoas e personalidades que surgem no Brasil e no mundo são vistas de outra forma em Portugal. Estou falando de tipo de postura com a do Sérgio Cabral e outros tantos, do deputado Jair Bolsonaro que defende idéias piores que as do atual presidente do Estados Unidos da América Donald Trump. Bolsonaro e Tiririca emergiram como anedotas (cada qual com esse tipo).  Sim, mas foram piadas eleitoras e hoje tem voz e vez na Câmara. Nem Bolsonaro, nem Tiririca e nem Trump passariam em Portugal. Os portugueses - de direita ou de esquerda - não riem desse tipo de figura, nem permitem que elas cresçam.

Todo país do mundo deveria ter uma data como o dia 25 de abril para comemorar. Eu assisti e vi nas ruas de Lisboa como Mário Soares foi reverenciado. Também não estou a elevar Soares a qualidade de mártir e nem Deus. Estou dizendo que se o Brasil tivesse definido uma data para celebrar o fim da ditadura. Talvez o dia em que os brasileiros voltaram do exílio e foram recebidos em festa no aeroporto do Rio de Janeiro. Talvez. Talvez se o hino fosse o grito de solidariedade entoado por Henfil e amigos. Talvez não tivesse tanto dor, miséria e pobreza. Talvez a democracia não fosse não frágil e o povo brasileiro tão sem memória. Talvez.

Todo idioma deveria carregar afeto nas palavras corriqueiras como o português de Portugal carrega. A educação nas ruas, nos transportes públicos e nas conversas ao telemóvel. Gosto de ouvir os pais e mães conversarem com seus filhos e a observar o tratamento entre eles. Levei meu filho mais novo ao parque-jardim bem próximo de casa e fiquei a ver e a me encantar com as formas de tratamento. Gosto ainda da forma cordial e respeitosa entre jovens e velhos.

Ainda tenho muito a conhecer da cultura, dos costumes, dos gostos, dos locais, bem como também como imigrante tenho muito a conquistar e a aprender. Mas acredito que escolhi um país que não é perfeito (tem suas mazelas), entretanto me expira confiança e me sinto feliz por está aqui.


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