Torre de Babel, a dramaturgia de Helder Costa


Venho, mais uma vez, dizer como gostei do espetáculo da A Barraca e do texto de Helder Mateus da Costa, que se encontra em cartaz do Cinearte, na freguesia de Santos, Lisboa. Um texto que nos fornece elementos e que nos leva à reflexão. Um texto demasiadamente significativo e simbólico para o momento em que atravessa nossa humanidade. Um texto eminentemente importante para a dramaturgia mundial, não só pelo seu cariz sociopolítico mas pelo seu contexto além do filosófico chegando ao cume da essência humanista. Um texto fundamentalmente esclarecedor que nos mostra como o homem está separado de si e do outro, como abriu uma cratera enorme entre nós, homens e mulheres, habitantes deste planetinha chamado Terra. Uma planeta que faz parte de um sistema de planetas, satélites, corpos celestes e cósmicos. E se o homem não consegue se relacionar dentro do seu próprio abrigo (um dos símbolos apresentados na peça teatral), imagine numa dimensão geográfica e ultra-estrelar como a Via Láctea. Mas o homem comemora os 50 anos de ter pisado na Lua. Maravilha, é o progresso!

Não sou contra o progresso e nem a tecnologia. Não sou contra ao conforto e nem ao bem-estar que eles podem suprir e nos proporcionar quando usados para isso. Mas deve se pensar o que está  se passando  com nós mesmos e com nossos vizinhos invés de encerramos a comunicação com os outros "abrigos". 

A separação é aquilo que mais caracteriza o homem de hoje: pelo sublime desenvolvimento da agricultura e a garantia de ter mais terra, separou-se da planta; pela exploração feroz e gananciosa da pecuária separou-se dos animais; e pelo controle dos commodities, bens e comércio e pela desconexão de tudo e dos todos, criou o rei, o ditador, o cão de guarda, a classe política (salve, salve!), o banco, ou seja, como resultado é do irmão mais próximo que o homem se separa. O homem recai em suas prisões estruturais e sistêmicas, tristes e desumanas.

O advento da propriedade privada, individual ou coletiva, escraviza o homem porque aquilo que se possui acaba por nos possuir. E dito isso, não me jogue pedra, porque não defendo o sistema econômico e politico inversamente contrário. Não me encaixo, não sou radicalmente capitalista e nem radicalmente comunista. Sou um espírito social e humanista até holístico (para usar a palavra da moda). Um sopro de esperança recai no desenvolvimento, cada vez mais acelerado, da ciência e da técnica que nos liberte da escravidão do trabalho e outros tipos de cela. Um sopro de esperança recai no despertar do criativo e do ser-criador, no abrir de possibilidades dialógicas e no clarear de consciências antes que findemos todos mortos como no texto de Helder Mateus da Costa.

Mas, é fato, se associar a propriedade individual a capitalismo e a propriedade coletiva a socialismo; digo (numa ideologia politica) o socialismo é a derradeira forma do sistema capitalista porque só a ausência da propriedade (instintivamente exploratória) tira o homem das sombras da caverna. A velha caverna de Platão que ainda está vivendo nela. É chegada a hora de sair dela.

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