Racismo Ambiental: Desafios e Visões para um Futuro Sustentável


 

Recentemente, escrevemos aqui um artigo que tratava da Economia Azul, e hoje fazemos uma reflexão sobre o Racismo Ambiental. Mas o que tem a ver uma coisa com a outra. Diretamente nada tem a ver, mas tudo tem a ver. Temos que pensar de forma de vida viável e sustentável envolvendo cultura, economia e meio ambiente.

O racismo ambiental é uma forma de injustiça socioambiental que afeta, de maneira desproporcional, comunidades racializadas e marginalizadas. Ele se manifesta na distribuição desigual dos impactos ambientais negativos, como poluição, desmatamento e mudanças climáticas, bem como no acesso limitado a recursos naturais e à infraestrutura ambientalmente segura. Esse fenômeno está diretamente ligado às estruturas históricas de discriminação e desigualdade socioeconômica, perpetuando a vulnerabilidade de determinados grupos sociais. Então, tem tudo a ver uma coisa com a outra. E, hoje, temos que repensar nossa forma de vida, a distribuição e infraestrutura de cidade. Moro em Fortaleza, no estado do Ceará, que é uma cidade que tem quase três milhões de habitantes, mas segundo fontes do IBGE, cerca de 1.27 milhão de pessoas (31,8%) vive na pobreza, com renda capita inferior a 465 reais por mês. Isso é bastante preocupante, ou deveria ser para todos que moram nessa Terra do Sol. E, o Sol nasce para todos ou deveria nascer.


Origens e Conceito de Racismo Ambiental

O termo "racismo ambiental" foi cunhado na década de 1980 nos Estados Unidos, quando ativistas e estudiosos começaram a observar padrões sistemáticos de localização de indústrias poluentes e despejo de resíduos tóxicos em comunidades predominantemente negras e latinas. Estudos comprovaram que essas populações estavam mais expostas à contaminação ambiental do que outras comunidades de maior renda e predominantemente brancas.

Desde então, o conceito foi expandido para diferentes partes do mundo, onde fenômenos semelhantes ocorrem em regiões habitadas por povos indígenas, quilombolas e outras minorias étnicas. Em países da América Latina, como o Brasil, África e Ásia, observa-se que grandes projetos industriais, agronegócio e extração de recursos naturais frequentemente resultam no deslocamento forçado de comunidades tradicionais e na degradação de suas terras e fontes de água. E, não precisamos fazer grandes esforços para enxergar essa prática na formação de nossas cidades. São Paulo é um exemplo claro. Um território de rios e riachos que cresceu e se desenvolveu "matando" a natureza e afastando a população que lá vivia a séculos. São Paulo é um exemplo dos "mandos e desmandos" colonialista, invasor e capitalista. Mas isso é outra história. Será? A população de nossas cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza tem crescido de forma acelerada e sem planejamento em nome do progresso e prosperidade financeira. Para privilegiar as mãos de quem? Os bolsos de quem? E, isso não é de forma nenhuma um "ranço" anticolonialista. Defendemos, sim, o progresso, o desenvolvimento econômico das cidades e do país. Mas, defendemos também que esse processo deve colocar na balança três fatores "cultura, meio ambiente e economia".

Daí, que entendemos que uma agenda ambiental deve ser discutida de forma mais ampla, envolvendo vários fatores, áreas de estudo social, cultural e econômico. A economia azul deve está alinhada assim como racismo ambiental com outras temáticas que falam com (e da) a população que mora e tira o seu sustento nesse ou aquele território. É essencial termos esse preocupação para as estratégias desenvolvedoras de um município. Deve-se ouvir, trabalhar e se integrar com as comunidades locais e construir possibilidades viáveis e sustentáveis para o bem comum. Pois, o racismo ambiental se manifesta de diversas formas ao longo de nossa história e geografia de cidades. Um exemplo significativo é a localização desproporcional de aterros sanitários e usinas poluentes em bairros de população negra e parda. No Ceará, comunidades indígenas e quilombolas frequentemente enfrentaram (e enfrentam) conflitos com grandes empreendimentos que exploraram (e exploram) suas terras sem consulta prévia ou consentimento. Isso não tem como negar, mas tem como corrigir. Trabalhar para que essa ação não mais ocorra. O Sol pode e deve nascer para todos.


Desafios do Combate ao Racismo Ambiental

Enfrentar o racismo ambiental requer a superação de desafios estruturais. Primeiramente, há uma falta de reconhecimento oficial do problema, o que impede a adoção de políticas públicas eficazes. Além disso, grupos historicamente marginalizados têm pouco acesso a espaços de decisão política e econômica, dificultando sua capacidade de influenciar questões ambientais que os afetam diretamente. Mas, isso não é um "mato sem cachorro", tem solução com vontade coletiva e interesse público.


Caminhos para a Justiça Ambiental

A solução para o racismo ambiental passa pela justiça ambiental, um conceito que visa garantir que todas as comunidades tenham direito a um meio ambiente seguro e saudável, independentemente de sua cor, etnia ou classe social. Isso inclui medidas como:

  1. Participação Comunitária: Fortalecer a participação de comunidades afetadas na tomada de decisão sobre projetos que impactam seus territórios.
  2. Leis e Regulações Mais Rigorosas: Implementar e fazer cumprir legislações ambientais que protejam as populações vulneráveis.
  3. Monitoramento e Responsabilização: Criar mecanismos para responsabilizar empresas e governos por práticas ambientalmente discriminatórias.
  4. Justiça Climática: Políticas públicas que abordem as mudanças climáticas levando em conta o impacto desigual sobre comunidades marginalizadas.
  5. Educação e Conscientização: Incentivar o ensino sobre racismo ambiental para sensibilizar a população e formar futuras lideranças na defesa de direitos ambientais.

Pois é, é isso aí. O racismo ambiental é um desafio de todos nós que exige soluções estruturais e engajamento coletivo. Porque a construção de um futuro ambientalmente justo depende da inclusão de grupos historicamente marginalizados no centro das decisões sobre políticas ambientais. Somente por meio da justiça ambiental poderemos garantir que todos tenham direito a um ambiente saudável e seguro, independentemente de sua origem étnica ou socioeconômica.

Uma breve reflexão sobre o que mais nos preocupa e nos interessa. A iniciativa é pensar e agir de forma simples e integral, por meio da cultura, economia e meio ambiente. Hoje não se pode discutir uma sem falar da outra, não se pode agir com a outra sem mexer noutra. .

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